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  • Foto do escritorLuciane Brum

Brasil lança 1ª bolsa de crédito de carbono do mundo com expectativa de movimentar R$ 12 bilhões

A primeira bolsa de crédito de carbono do mundo, a B4, foi lançada nesta quarta-feira, (16), em São Paulo. Ela permite a negociação dos créditos, que se referem aos certificados emitidos para uma empresa que reduziu a sua emissão de gases do efeito estufa, como um ativo financeiro por meio da tecnologia blockchain, cadeia de dados que permite o compartilhamento de bens e informações em uma base segura e imutável.



A ideia é que a bolsa atue como um facilitador para as empresas que querem compensar a quantidade de carbono emitida em suas operações e impulsionar a transição energética através de uma economia com foco em regeneração dos recursos naturais.


"Não vai ser uma alternativa à B3. Ela vai listar ativos tokenizados (dispositivo que funciona como uma chave eletrônica) e projetos voltados à sustentabilidade", afirma Odair Rodrigues, fundador da B4. Kaue Vinícius, especialista em negociação e com 19 anos de experiência na Ásia, e Mozart Fernandes, especialista em marketing, também são sócios da empresa.


De acordo com uma análise interna feita pela empresa, a expectativa é movimentar R$ 12 bilhões em crédito de carbono no primeiro ano após o lançamento da plataforma. No entanto, eles ressaltam que, com base nas empresas que desejam ser listadas e nas que desejam comprar, a demanda é dez vezes superior a esse valor. Os nomes das empresas só serão anunciados após o lançamento.


A B4 adiantou que indústrias grandes de países como Estados Unidos, Canadá, Japão, França e Arábia Saudita já demonstraram interesse em comprar e comercializar os créditos da B4. No Brasil, empresas de varejo que vendem o crédito dentro de seus aplicativos, como iFood e Uber, também demonstraram interesse.


Como objetivo final, a B4 pretende se tornar uma bolsa de ação climática. Neste primeiro momento, no entanto, a plataforma irá comercializar apenas créditos de carbono.


Além de facilitar o acesso das empresas à negociação de ativos digitais lastreados em carbono positivo, a B4 também tem a intenção de impulsionar a chegada de mais empresas à neutralidade de carbono através de uma plataforma controlada. "A tecnologia permite o fracionamento e venda rastreada e auditável desses créditos, evitando que as empresas finjam adotar práticas sustentáveis", afirma André Carneiro, CEO da BBChain.


Em termos de mercado, Felipe Bottini, CEO e fundador da Green Domus, empresa parte da Accenture, destaca que a blockchain traz um conjunto de elementos importantes para a negociação de ativos em relação à segurança, rastreabilidade, auditoria e transparência das transações, permitindo que mais empresas ingressem diretamente ou indiretamente no mercado de carbono.


Rodrigues ainda afirma que a plataforma surge como resposta ao maior problema do mercado de crédito de carbono: a duplicidade dos créditos. Segundo o especialista, quando um crédito de carbono é emitido ou negociado mais de uma vez, resulta em usos indevidos de um ativo já debitado.


Com a rastreabilidade da blockchain, Rodrigues destaca que haverá apenas um registro daquele ativo, resolvendo o problema das empresas envolvidas no mercado de compensação de emissões, que, por vezes, acabam perdendo a confiança de seus investidores.


"Sem um sistema adequado para rastrear e registrar de forma transparente as transações desses ativos, o problema tende a se repetir. Com a tecnologia blockchain, a B4 oferece uma solução que permite o registro imutável e eficaz das informações em um ambiente transparente distribuído", destaca.


Yan Martins, CEO da Hathor Labs, ressalta ainda que, em relação ao mercado de carbono, a tecnologia pode ser essencial para trazer eficiência e agilidade ao reduzir a necessidade de intermediários no mercado, além de democratizar o acesso a esses mercados, incluindo também pequenas empresas e pessoas comuns.


Como vai funcionar?

Ao contrário da B3, onde é necessário negociar a compra e venda de ativos por meio de uma corretora de valores, a empresa pode se cadastrar na plataforma, preencher informações semelhantes às solicitadas pelo banco e criar uma conta. Em seguida, pode comprar os créditos de carbono após transferir o valor para a conta.


"Vai operar de forma semelhante a uma conta bancária ou à compra de criptoativos, com a diferença de que vamos verificar as empresas que estão comprando", explica Rodrigues.


Uma indústria interessada em iniciar sua compensação de crédito de carbono, por exemplo, pode se cadastrar, comprar créditos de carbono e mantê-los na carteira da corretora.


Para compensar efetivamente a pegada de carbono, basta trocar os tokens (dispositivos eletrônicos que funcionam como uma chave eletrônica) por um "certificado" através de um NFT (ativos digitais armazenados na blockchain) emitido pela própria B4, que garantirá que a compensação está sendo feita.


"É uma maneira, inclusive, de anunciar à sociedade que aquela empresa está realmente fazendo a compensação, já que pode incluir essas informações em seus próprios balanços financeiros", diz Rodrigues.


"Após a primeira compra, ele terá que responder a outros tipos de questionários para provar que está evitando a pegada de carbono e não apenas compensando. Se eu permitir apenas a compensação, será um certificado que ela pode poluir", explica Rodrigues. Ele afirma que ações práticas devem ter sido adotadas, como a instalação de sistemas para evitar emissões poluentes ou apoiar projetos sustentáveis.


Segundo ele, essa comprovação não será um impedimento para movimentar os créditos que a empresa já possui, apenas para a compra de novos. "Sabemos que haverá empresas que não querem um projeto de sustentabilidade, apenas fazer uma troca como investidor. E está tudo bem, mas haverá um limite para que o crédito seja exclusivo para empresas que precisem compensar no futuro."


Ele também diz que atualmente não existe um parâmetro definido para esse limite, uma vez que ele está condicionado às toneladas de carbono disponíveis no mercado. Rodrigues explica que qualquer pessoa física no mundo também poderá comprar a partir do momento em que o livro de ofertas for aberto, podendo ter aquele ativo na carteira e sofrer flutuações do mercado.


Em um primeiro momento, a B4 não será regulamentada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), pois só negociará os chamados utility tokens (tokens de utilidade), que dão acesso a algum serviço ou benefício.


No entanto, a empresa afirma que, quando negociar security tokens, que são títulos que representam um ativo real, como ações, por exemplo, regulamentados pela CVM, solicitarão as autorizações necessárias. A expectativa é que isso ocorra até dezembro, caso alguma das empresas queira listar esse tipo de ativo.


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FONTE: https://www.estadao.com.br/economia/governanca/brasil-lanca-bolsa-credito-carbono-mundo/



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