Recifes Brasileiros em Colapso Silencioso: Um Alerta sobre Microalgas
- Amazon Connection Carbon
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A ciência tenta acompanhar o ritmo das transformações planetárias, mas os impactos do aquecimento global e da acidificação dos oceanos seguem superando o avanço do financiamento e da vontade política voltados à proteção dos recifes de corais. Dois estudos brasileiros recém-publicados na revista Coral Reefs acendem um alerta vermelho sobre o estado dos recifes de Abrolhos, o maior e mais biodiverso do Atlântico Sul. As pesquisas indicam que as ameaças vão muito além do branqueamento visível, revelando processos silenciosos de degradação que desafiam as atuais estratégias de conservação.
Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) sequenciaram o DNA do microbioma de corais na região e identificaram, pela primeira vez no Atlântico Sul, a presença da microalga Symbiodinium necroappetens. Trata-se de uma espécie oportunista associada a corais enfraquecidos por estresse térmico ou infecções. Segundo os autores, antes da anomalia de temperatura de 2019, essa alga era praticamente indetectável; após o evento, passou a representar mais de 70% dos simbiontes encontrados em colônias de Mussismilia braziliensis, espécie endêmica e criticamente ameaçada.
Para os pesquisadores, a detecção precoce desse “simbionte da morte” pode servir como um indicador biológico de alerta, permitindo que ações de manejo e mitigação sejam acionadas antes que o branqueamento se torne irreversível. O segundo estudo, intitulado “Nowhere to Hide”, analisou colônias de Montastraea cavernosa e M. braziliensis nos cinco anos posteriores ao branqueamento de 2019. Embora muitas delas tenham recuperado a coloração marrom característica, entre 50% e 70% do tecido vivo dessas colônias morreu lentamente, sem apresentar sinais externos de estresse. O fenômeno, conhecido como mortalidade tardia, expõe uma falha estrutural nos protocolos tradicionais de monitoramento, que ainda dependem de observações visuais para avaliar a recuperação dos recifes.
Uma crise silenciosa de escala global
Os recifes de corais cobrem apenas 0,2% do leito marinho, mas sustentam cerca de 25% da biodiversidade dos oceanos. Fornecem habitat, proteção costeira e recursos pesqueiros essenciais para mais de 500 milhões de pessoas. Segundo a Global Coral Reef Monitoring Network, esses ecossistemas são responsáveis por serviços ambientais avaliados em até US$ 9,9 trilhões anuais — incluindo turismo, pesca e regulação climática.
O cenário, no entanto, é alarmante. Desde janeiro de 2023, mais de 84% dos recifes do planeta foram submetidos a níveis de calor capazes de causar branqueamento, segundo o NOAA Coral Reef Watch. Trata-se do maior evento global já registrado, com impactos severos nas costas do Caribe, do Pacífico e do Atlântico Sul. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) estima que entre 70% e 90% dos recifes poderão desaparecer até 2100, mesmo se o aquecimento global for limitado a 1,5°C.
Tecnologia e conservação: um novo paradigma
Diante de um contexto de múltiplos estressores — térmicos, químicos e biológicos —, pesquisadores têm apostado em abordagens integradas de monitoramento. Ferramentas de visão computacional e inteligência artificial vêm sendo testadas para processar imagens subaquáticas, detectar pequenas perdas de tecido e identificar padrões de recuperação não visíveis a olho nu.
A combinação de dados genéticos, microbiológicos e fotogrametria 3D promete transformar a gestão ambiental marinha. Esses indicadores poderiam ser incorporados aos licenciamentos ambientais de empreendimentos costeiros e portuários, permitindo a intervenção antecipada em áreas críticas. “Não basta reagir a crises, é preciso antevê-las. A tecnologia pode ser a diferença entre um recife degradado e um ecossistema funcional”, afirmou Fonseca.
Brasil e o desafio da conservação integrada
Com o arquipélago de Abrolhos sob pressão crescente da pesca, do turismo e das mudanças climáticas, a necessidade de políticas públicas efetivas é urgente. Especialistas defendem uma estratégia nacional que una pesquisa científica, financiamento de longo prazo e parcerias público-privadas.
Empresas comprometidas com metas de descarbonização também podem desempenhar papel relevante. A Amazon Connection Carbon (ACC), sediada em Belém (PA), oferece soluções de neutralização e monitoramento ambiental, além de desenvolver projetos de carbono baseados na natureza, como o Projeto REDD+ Xikrin do Cateté, que alia conservação florestal, fortalecimento indígena e mitigação de emissões.
Ao integrar ciência, tecnologia e comunidades locais, iniciativas como essa demonstram que a conservação marinha e terrestre depende tanto de inovação quanto de engajamento coletivo. A defesa dos recifes de corais brasileiros, portanto, é mais do que um desafio ecológico — é um compromisso ético com as futuras gerações.
Referências
Salomon, P. S. et al. “Dois novos alertas sobre os recifes brasileiros”. ((o))eco, 1º de julho de 2025.
NOAA Coral Reef Watch. “World’s largest bleaching event on record has harmed 84% of coral reefs”, 23 abr. 2025. The Washington Post.
Global Coral Reef Monitoring Network (GCRMN). Status of Coral Reefs of the World: 2025 Report.
NASA/IPCC. Special Report on Coral Reef Decline: Projections of 70–90% Loss by 2100 with 1.5 °C Warming.
Amazon Connection Carbon (ACC). Site oficial e documentos institucionais – “Sobre Nós”, “Serviços”, “Solução de Neutralização”, “COP30” e Projeto Xikrin do Cateté.
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