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Primeira semana de COP30 em Belém reúne recorde de participantes e cria debates sob clima amazônico intenso

  • Foto do escritor: Amazon Connection Carbon
    Amazon Connection Carbon
  • há 2 horas
  • 7 min de leitura

A primeira semana da COP30, realizada em Belém entre 10 e 21 de novembro de 2025, consolidou-se como um marco na diplomacia ambiental contemporânea. Instalado no coração da Amazônia, o encontro reuniu mais de 56 mil participantes e trouxe à tona debates complexos — desde o impasse das negociações internacionais até a urgência científica, passando por anúncios financeiros de grande porte e iniciativas inéditas de políticas públicas brasileiras.


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Mais do que uma conferência climática, a COP30 expôs, de forma quase pedagógica, o contraste entre as expectativas globais e as limitações políticas que ainda impedem que as metas do Acordo de Paris ganhem tração real.


A dimensão histórica da COP30: entre a Amazônia e o mundo


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A contagem oficial de 56.118 delegados registrados colocou a COP30 como a segunda maior da história — um dado que merece leitura cuidadosa.


Conferências climáticas costumam ser termômetros da disposição política internacional. Quanto maior a participação, maior a pressão sobre os negociadores. A presença significativa de governos, ONGs, grandes fundos internacionais, representantes do setor privado e, especialmente, de povos indígenas, produziu uma conferência plural, intensa e marcada pela disputa de narrativas.


Em Belém, essa diversidade se tornou ainda mais visível pela distribuição geográfica dos espaços da COP — pavilhão da sociedade civil, pavilhão dos povos indígenas, pavilhões nacionais, áreas técnicas e áreas de negociação formal.


Cada grupo carregava expectativas distintas:

  • Governos defendiam suas metas e buscavam recursos.

  • Empresas tentavam demonstrar avanços na transição energética.

  • Organizações ambientais cobravam compromissos vinculantes.

  • Indígenas e comunidades tradicionais buscavam reconhecimento, segurança territorial e protagonismo.

  • Acadêmicos pressionavam para que decisões refletissem evidências científicas.


O resultado foi um cenário vibrante e, ao mesmo tempo, tenso — típico de conferências em que os interesses estratégicos divergem sobre quem deve pagar a conta da crise climática.


O clima amazônico como protagonista: o corpo sente o que o planeta enfrenta

Realizar a COP no coração da Amazônia foi uma decisão estratégica — e, na primeira semana, ficou claro o quanto o ambiente influenciaria a percepção dos presentes.

Belém apresentou sua climatologia clássica de novembro:


  • Manhãs com calor intenso, sensação térmica acima de 38 °C e umidade acima de 80%.


  • Tardes com chuvas intensas, raios e trovões que chegaram a interromper painéis.


  • Ventos fortes ao entardecer, acompanhados do cheiro característico da floresta molhada.


Para delegados de países temperados, esse contraste — calor úmido e tempestades súbitas — reforçou a ideia de que a Amazônia não é apenas objeto de discussão, mas um ecossistema vivo e poderoso, capaz de influenciar diretamente as percepções climáticas do evento.


Clima político: urgência, cobrança e pouca margem de negociação


A sensação predominante nos corredores era de que o mundo está atrasado. O último relatório do IPCC já havia alertado para a necessidade de reduzir emissões globais em cerca de 43% até 2030. Estamos a cinco anos desse prazo, e nenhum grande emissor está alinhado a essa trajetória.


Por isso, mesmo antes da chegada dos ministros e chefes de Estado, a primeira semana registrou:


  • Pressão crescente sobre países desenvolvidos, cobrados a ampliar financiamento climático.

  • Frustração entre países em desenvolvimento, que alegam falta de recursos para acelerar a transição energética.

  • Críticas de cientistas, que classificam as metas atuais como insuficientes.

  • Choques diplomáticos, especialmente envolvendo exploração de petróleo, compensações financeiras e uso de créditos de carbono.


Belém, assim, tornou-se palco de disputas intensas — algumas discretas, outras explícitas.


Bilhões para florestas: o avanço do TFFF e o tabuleiro financeiro global


Um dos anúncios mais significativos da primeira semana foi o fortalecimento do Tropical Forests Forever Facility (TFFF). O fundo, concebido para recompensar países que conservam suas florestas tropicais, ganhou volume e relevância internacional.


Noruega, Brasil e o redesenho dos incentivos globais


  • A Noruega anunciou um compromisso de cerca de US$ 3 bilhões ao fundo.

  • O Brasil informou já ter aportado cerca de US$ 1 bilhão.


Esse fundo, que pretende chegar a US$ 125 bilhões, difere de iniciativas anteriores por funcionar como um endowment global, cujo rendimento anual seria destinado ao pagamento de países que evitam o desmatamento. A lógica inverte um modelo histórico: Em vez de punir quem desmata, o fundo premia quem conserva — conectando conservação territorial a estabilidade financeira.


Baku to Belém Roadmap: a promessa do US$ 1,3 trilhão anual


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Outro anúncio de grande impacto foi o plano global para mobilizar US$ 1,3 trilhão por ano em financiamento climático até 2035.


Essa cifra busca corrigir uma lacuna histórica: apesar de as metas climáticas serem ambiciosas, os mecanismos de financiamento são insuficientes.


O Roadmap propõe:

  • aumentar a participação de bancos multilaterais;

  • criar linhas de crédito específicas para países vulneráveis;

  • ampliar garantias financeiras para atrair capital privado;

  • estabelecer regras mais transparentes para rastreabilidade;

  • incentivar investimentos em florestas e energia limpa.


Ainda não há consenso sobre governança, mas o plano foi considerado o passo mais concreto para tentar aproximar ambição e orçamento.


Discussões essenciais: energia, Paris e cidades


a) Transição energética: o dilema entre potencial e contradição

A “industrialização verde” ganhou destaque na primeira semana, impulsionada pela Belém Declaration, assinada por 35 países e organizações.


O Brasil tenta se posicionar como líder de uma nova economia que concilie:


  • expansão de renováveis (solar, eólica, biomassa);

  • hidrogênio verde;

  • captura e armazenamento de carbono;

  • bioeconomia da floresta;

  • biocombustíveis avançados.


Contudo, há contradições. O país ainda avalia a exploração de petróleo na margem equatorial, o que gera críticas de organizações socioambientais e tensão diplomática com parceiros europeus.


b) O Acordo de Paris em xeque

A COP30 ocorre após o primeiro ciclo completo do Global Stocktake, mecanismo que avalia se os países estão no caminho correto para limitar o aquecimento global a 1,5 °C ou 2 °C.


A resposta é clara: não estão.


Belém, portanto, tornou-se espaço de cobrança para que os países revisem suas metas nacionais (NDCs). A pressão recai especialmente sobre:


  • EUA

  • União Europeia

  • China

  • Índia

  • países exportadores de petróleo


O Brasil, embora tenha recebido elogios pela queda do desmatamento recente, enfrenta pressões por maior clareza em sua estratégia energética.


c) PlaNAU: um plano urbano histórico para o Brasil

O lançamento do Plano Nacional de Arborização Urbana (PlaNAU) foi um dos destaques da delegação brasileira. O plano estabelece:


  • aumentar a cobertura arbórea urbana;

  • garantir que 65% dos brasileiros vivam em ruas com pelo menos três árvores;

  • criar 360 mil hectares de áreas verdes urbanas.


Impactos diretos do plano

  • redução de ilhas de calor;

  • melhora da qualidade do ar;

  • aumento da resiliência climática;

  • valorização imobiliária;

  • redução do estresse térmico em grandes cidades.


Ao apresentar o programa em Belém, o governo buscou vincular a política interna a uma agenda climática global — gesto político que repercutiu positivamente entre países latino-americanos e organismos internacionais.


O “mapa” do US$ 1,3 trilhão: o grande legado em disputa


A ambição da COP30 está concentrada na construção de um roteiro estruturado para mobilizar US$ 1,3 trilhão anuais até 2035.


Se aprovado, será o maior plano de financiamento climático já pactuado.

Esse mapa está sendo disputado ponto a ponto:


  • Quem paga?

  • Como paga?

  • Com qual taxa de juros?

  • Com quais garantias?

  • Com qual rastreabilidade?

  • Qual fatia vai para florestas?

  • Qual fatia vai para mitigação e adaptação?

  • Como evitar corrupção?

  • Como proteger povos indígenas?


Nenhuma dessas respostas está fechada, mas as conversas avançaram mais rápido do que em conferências anteriores — justamente pela pressão internacional para resultados tangíveis.


Belém como símbolo, teste e oportunidade

A primeira semana da COP30 revelou um encontro grandioso em escala e densidade política. A Amazônia, com seu clima intenso e atmosfera simbólica, deu à conferência um caráter quase sensorial.


Do ponto de vista diplomático, o evento se mostrou dividido entre esperança e frustração:


  • Esperança, pelos anúncios bilionários, pelos avanços em fundos florestais e pelo debate mais transparente sobre financiamento global.

  • Frustração, porque muitos temas estruturais — como eliminação progressiva de combustíveis fósseis — permanecem travados por pressões políticas e interesses econômicos.


Para o Brasil, o saldo inicial é positivo: o país reforçou sua imagem de liderança ambiental, apresentou políticas novas como o PlaNAU e ganhou espaço no debate sobre financiamento para florestas.


Mas a segunda semana será o verdadeiro teste. Com a chegada dos chefes de Estado e dos ministros de Finanças, Belém pode:


  • entrar para a história como a COP da virada, caso o mapa de US$ 1,3 trilhão avance; ou

  • repetir o ciclo de discursos ambiciosos e resultados tímidos.


A expectativa, nos corredores e nos pavilhões, é de que a Amazônia — símbolo global da conservação e eixo estratégico do clima — inspire decisões capazes de responder à urgência do momento.


Referências

AGÊNCIA BRASIL. Governo lança Plano Nacional de Arborização Urbana durante a COP30. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br. Acesso em: 17 nov. 2025.

AP NEWS. Global climate finance and forest protection efforts advance at COP30. Disponível em: https://apnews.com. Acesso em: 17 nov. 2025.

CARBON BRIEF. Global roadmap for US$1.3 trillion annual climate finance. Disponível em: https://carbonbrief.org. Acesso em: 17 nov. 2025.

CLIMATECLICKER.ORG. Experts warn world leaders are running out of time to meet climate goals. Disponível em: https://climateclicker.org. Acesso em: 17 nov. 2025.

COP30 BRASIL. Belém Declaration and sustainable industrialization commitments. Disponível em: https://www.cop30brasil.com.br. Acesso em: 17 nov. 2025.

EARTH.ORG. Delegados da COP30 ultrapassam 56 mil participantes no primeiro dia. Disponível em: https://earth.org. Acesso em: 17 nov. 2025.

GOVERNMENT OF BRAZIL (via ClimateClicker). Brazilian contribution to the Tropical Forests Forever Facility. Disponível em: https://climateclicker.org. Acesso em: 17 nov. 2025.

NATURE4CLIMATE. Tropical storms, heat and atmospheric pressure mark the opening week of COP30. Disponível em: https://nature4climate.org. Acesso em: 17 nov. 2025.

REUTERS. Norway commits US$3 billion to Tropical Forests Forever Facility. Disponível em: https://www.reuters.com. Acesso em: 17 nov. 2025.

REUTERS. Baku to Belém Roadmap aims to mobilize US$1.3 trillion per year for climate finance. Disponível em: https://www.reuters.com. Acesso em: 17 nov. 2025.

S&P GLOBAL. Global Stocktake shows countries are far from reaching Paris Agreement goals. Disponível em: https://www.spglobal.com. Acesso em: 17 nov. 2025.

THE GUARDIAN. Brazil’s offshore oil plans raise concerns despite climate leadership stance. Disponível em: https://www.theguardian.com. Acesso em: 17 nov. 2025.

THE WASHINGTON POST. Countries face challenges implementing energy transition despite political commitments. Disponível em: https://www.washingtonpost.com. Acesso em: 17 nov. 2025.

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